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GALERIA DOS GOESES ILUSTRES

INTROSPECÇÃO SOBRE A ORIGEM, O ALCANCE E OS LIMITES DA IDENTIDADE GOESA, E O SEU CONTRIBUTO HISTÓRICO E SOCIAL EM PORTUGAL E NO MUNDO

GALERIA DOS GOESES ILUSTRES

INTROSPECÇÃO SOBRE A ORIGEM, O ALCANCE E OS LIMITES DA IDENTIDADE GOESA, E O SEU CONTRIBUTO HISTÓRICO E SOCIAL EM PORTUGAL E NO MUNDO

570 DA ÍNDIA PARA MACAU – MILITARES, MISSIONÁRIOS E OUTROS, por Jorge Rangel*

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"Há factos e referências históricas
que permitem localizar Goeses
autóctones, mestiços ou Indianos,
em Macau, desde o século XVI.”
Do opúsculo “Gentes da Índia por terras de Macau” (Instituto Internacional de Macau, Dezembro de 1999), de Mário Cézar Leão, apreciámos já, no artigo anterior, as partes mais pertinentes relacionadas com as relações históricas entre a então Índia Portuguesa e Macau. Na parte final do mesmo, foi realçada a relevância da Nau do Trato no contexto dessas relações. Com efeito, “a prosperidade trazida a Macau pela viagem ao Japão contrastava com as condições depauperantes e o progressivo declínio de Goa, a partir do século XVII, o que levou o Senado de Macau a afirmar, em 1640, que eram a sua cidade e os seus recursos provenientes do Japão que tinham evitado a decadência e o fim do Estado Português da Índia, em luta com os holandeses”.
No regresso do Extremo Oriente, “o Navio Negro, atracado em Goa, descarregando preciosidades e riquezas de um mundo distante, funcionaria como um pólo de atracção para quem já tivesse vivido, há bem pouco tempo, uma época áurea e por esse motivo aspirasse a novos horizontes e uma melhoria do estilo de vida”. Até por isso, conforme uma carta régia, já viviam em Macau, em princípios do século XVII, seiscentas famílias indo-portuguesas.
★Outras gentes vindas da Índia
Como vimos no referido artigo, “há factos e referências históricas que permitem localizar Goeses autóctones, mestiços ou Indianos, em Macau, desde o século XVI”. Com efeito, variadas gentes do subcontinente indiano demandaram estas paragens extremo-orientais. O autor recorda “os lascares mercenários do Malabar que foram colaboradores importantes dos portugueses desde o início da ocupação do Oriente, tomando parte em expedições de várias frentes, ao lado das forças militares europeias”. Assim, “lascarins, marinheiros indianos de várias etnias, recrutados localmente, constituíam a maior parte das naus, galeotas, fustas, juncos e outras embarcações que circulavam de feitoria em feitoria no comércio interno da Ásia ou em empreendimentos militares no mar”.
Uma decisão determinante, decretada pelo Marquês de Pombal, foi “a equiparação dos Goeses aos Portugueses, quando declarou os indígenas da Ásia portuguesa perfeitamente iguais perante a lei aos Portugueses nascidos no Reino”, tendo sido estabelecidas penas para quem tentasse conservar as diferenças anteriormente existentes. Este facto ampliou e consolidou a participação dos naturais na administração pública e na acção missionária.
De entre tantas vicissitudes da história, o autor quis destacar “a embaixada portuguesa que em 1640 se dirigiu ao Japão com o intuito de desbloquear uma situação de impasse comercial na sequência do decreto que proibia os portugueses de demandarem os portos nipónicos”. Desse grupo de 71 pessoas, “pelo menos dezassete eram de origem indiana [indo-portuguesa] e, entre eles, um dos quatro embaixadores, Luís Pais Pacheco, natural de Cochim e morador em Macau, foi um dos condenados à morte e degolados na Colina dos Mártires de Nagasáqui”. Posteriormente, foi chegando mais e mais gente, com os propósitos mais diversos e com capacidade interventora na afirmação da cidade.
Citando relatos e crónicas dos séculos seguintes, o autor recordou a vinda, em 1784, de 150 soldados de Goa “para integrarem as forças de defesa e segurança de Macau”, a incorporação de “41 soldados mouros”, em 1873, na guarnição local e a chegada, em Abril de 1888, de “150 Maratas sob o comando de um tenente da Índia Portuguesa para a guarda policial de Macau”. Foi também lembrada a instalação em Macau de uma colónia de Parses, “que a avaliar pelo cemitério que deixaram deve ter sido importante, mas é difícil hoje avaliar qual o impacto que a presença desse povo terá tido na sociedade macaense”.
Particularmente significativa foi, como é óbvio, a presença de homens da Igreja, oriundos da Índia Portuguesa, ao serviço de Deus em Macau. Já no século XVII, “a pedido da diocese de Macau, eram enviados padres seculares ordenados em Goa, para fazerem face às necessidades sempre crescentes de pessoal indispensável para a evangelização de Macau e regiões adjacentes, que continuaram a afluir nos séculos seguintes, juntamente com médicos, advogados, militares, magistrados, engenheiros, professores e funcionários públicos que às centenas se integravam nos quadros locais numa torrente quase constante até aos nossos dias”. Macau ficou certamente a dever imenso ao contributo positivo de gerações de homens e mulheres que, saindo de várias partes da Índia, cumpriram comissões de serviço ou se radicaram na Cidade do Santo Nome de Deus.
★Personalidades que se evidenciaram
Sem desprimor para tantos outros, o autor achou por bem mencionar os nomes de algumas personalidades que se evidenciaram em diversificados ramos de actividade. Assim, no campo eclesiástico, a ligação foi intensa desde os primórdios de Macau, através de sacerdotes formados em Goa, merecendo ser referenciados párocos e cónegos do século XIX, como Caetano Filipe da Piedade Conceição, de Margão, e Francisco Caetano Santana e Costa, de Cansaulim, e, mais perto de nós, o cónego Francisco Xavier Soares, natural de Aldoná, “que por mais de quarenta anos missionou em Macau, destacando-se no entanto entre todos, pela sua abnegação e dedicação pelo ministério de Deus, o Pe. Manuel Francisco do Rosário Almeida, natural de Chinchinim, a quem se deve a fundação do Hospital Asilo dos Pobres e o Asilo da Infância Desvalida”. Também se destacou o dominicano João Xavier da Trindade e Sousa, “último superior do convento de S. Domingos em Macau, deputado às Côrtes por Timor e por fim Bispo de Malaca”.
Nas áreas da saúde e assistência, ganharam reconhecimento os médicos Henrique Vítor Figueiredo e João Jacques Floriano Álvares, que se integraram bem na sociedade macaense, ainda no século XIX, e aqui deixaram descendência, João António Filipe de Morais Palha, que “permaneceu trinta e cinco anos em Macau, tendo exercido funções de director dos Serviços de Saúde”, e Pedro Joaquim Peregrino da Costa, “que por lá labutou entre 1916 e 1939, com grande apreço e reconhecimento da população que serviu”, tendo dedicado os tempos livres ao estudo da História de Macau e do Oriente.
Quanto a outras áreas profissionais, Mário Cézar Leão apontou os nomes de João Maria Sequeira, “capitão das milícias de Bardez (Goa) que foi secretário do Governador”, Francisco Assiz Fernandes, “que foi Delegado do Procurador Régio, vereador e presidente do Leal Senado”, José Gabriel Fernandes, “que exerceu funções de Juiz da Paz e dos Órfãos e Síndicos da Santa Casa da Misericórdia e das Missões de Pequim”, João Baptista Gomes, “Delegado do Procurador Régio e Juiz Administrador das Alfândegas, cujo sangue corre ainda nas veias de várias famílias macaenses”, Saturnino Pereira, “pai de Francisco Xavier Pereira, nascido em Macau, formado em Direito pela Universidade de Coimbra, que foi vulto eminente na sociedade do seu tempo, tendo sido presidente do Leal Senado e cujo nome foi dado a uma das principais artérias da cidade onde nasceu”, e o advogado Caetano José Lourenço, “pai do capitão de artilharia Eduardo Lourenço, nascido em Macau, uma das figuras proeminentes da vida pública da sua terra”.
Nos últimos parágrafos do texto, foi enfatizado o significado “da percentagem de sangue de Goa que corre nas veias das gentes de Macau”, sendo “o Macaense, filho da terra, produto híbrido multirracial, com características somáticas e antropobiológicas específicas, com uma língua, dialecto do português, cultura, tradição e folclore próprios, um todo, integrado por vários componentes e como não podia deixar de ser, a Índia teve uma quota parte nesta mesclada composição”. Assim foi ao longo de séculos, até aos nossos dias.
Ficou certamente muito por dizer, sendo, por isso, necessário que mais investigadores dêem continuidade a este importante trabalho.
* Presidente do Instituto Internacional de Macau.
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